sábado, 1 de março de 2008

Once

Em Dublin, um cantor de rua muito talentoso (Glen Hansard) conhece uma emigrante checa (Markéta Irglová) com a qual compõe algumas músicas na esperança de conseguir um acordo discográfico. Com o passar dos dias a relação entre os dois torna-se numa cumplicidade total, e revelam através da música a sua paixão e a procura do equilíbrio roubado por alguns amores falhados no passado.

Once é, sem grandes reservas, um dos melhores musicais dos últimos anos, senão o melhor. Sem caras ilustres, um realizador de topo ou mesmo um orçamento sequer comparável aos de Hairspray e Sweeney Todd, este filme consegue cativar como nenhum destes dois. Sem nunca ser um musical tradicional em que os diálogos surgem sob a forma de canções, é através destas que se diz muito do que as os dois jovens apaixonados não conseguem dizer um ao outro.

A uma história honesta e sem ponta de pretensiosismo, junta-se uma realização simples e bastante afável, ainda que notoriamente com poucos meios. Aliás, a falta de recursos e o amadorismo dos actores é muito provavelmente o atractivo chave do filme, ajudando a encarcerar o espectador no desdobrar da narrativa. Caso fossem “actores de verdade” a encarnar as personagens centrais de Once (Cillian Murphy foi ponderado para preencher o lugar de Glen Hansard), perdia-se muito provavelmente o impacto da obra e a acepção que a cinematografia em jeito de documentário lhe fornece. A dupla de protagonistas nunca negou nada saber de representação, talvez por isso tenha conseguido dar ás personagens uma simplicidade e ingenuidade com a qual qualquer pessoa se pode identificar e naturalmente interessar.

A abordagem de John Carney – realizador do filme e baixista da banda The Frames, liderada pelo protagonista Glen Hansard- foi, em todos os sentidos, um triunfo. Escreveu o argumento sem cair na tentação de o tornar complexo ou demasiado ambicioso, como em tudo o resto no filme, prescindiu dos clichés do cinema mainstream para criar uma obra de carácter mais pessoal. Nota-se no seu modo de filmar uma vontade em dar espaço aos protagonistas, em não se inserir demasiado na acção, quase como que estivesse apenas a observar ao longe algo que já estava a acontecer, mas mesmo assim não deixa de ser intimista. A inserção das músicas no filme surge quase como pequenos videoclips que explicam o porquê de aquela relação parecer querer ficar-se apenas pela intenção de ultrapassar a amizade. Para além de um musical o filme é também um romance pouco convencional.

A pièce de résistance de tudo isto é sem dúvida a banda sonora muito ovacionada nos Oscars®, com Falling Slowly a ser apenas uma das grandes músicas com que o filme nos premeia durante a sua curta duração.

Uma prova de que com muito pouco se pode fazer muito.


Nota Máxima: A música e a simplicidade de tudo.

Nota Mínima: Ter sido esquecido no meio de “gigantes”.


Classificação: 5/5

6 Comments:

Cataclismo Cerebral said...

Tenho de deitar as vistas a este filme, não há volta a dar... A tua crítica conquistou definitivamente a minha vontade de o ver, que já era bem grande.

Abraço

Unknown said...

Pois, este é um filme cuja minha ânsia em ver é enorme. Parece-me uma produção simples mas de sucesso. Os Óscares já o provaram.

Abraço

Johnny Boy said...

Cataclismo e fifeco, vejam...vale bem a pena. Eu encomendei o dvd pelo cd-wow com algumas reservas e não me arrependi mesmo nada. Espero não estar a elevar demasiado as vossas espectativas, mas a mim pareceu-me praticamente perfeito.

Cumprimentos!

Pedro Pereira 77 said...

Estou bastante curioso por ver este filme...

Continua com o bom trabalho que tens feito no blog...

Johnny Boy said...

Obrigado Halloween! O tempo não é muito, mas vou tentando fazer o que posso. ;)

Cataclismo Cerebral said...

Confirma-se: é um objeco delicado e simples, pleno de qualidade. E a música não lhe fica atrás :)