terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Expiação

Adaptação do aclamado romance de Ian McEwan, Expiação relata a história de um amor condenado ao fracasso, vítima de um momento mal decifrado pela imaginação fértil de uma jovem, que durante toda a sua vida vai procurar redimir o seu erro. Esta pode ser uma interpretação daquele que muitos proclamam ser o tearjerker do ano. Por outro lado podia estar aqui a dizer que é uma história sobre o efeito que uma acção impulsionada pelo ciúme tem sobre a vida de duas pessoas, e estar igualmente correcto. Nunca poderemos afirmar ao certo se o que levou Briony Tallis (interpretada por três actrizes diferentes) a cometer aquele acto terrível foi a sua ingenuidade ou a falta dela. Importante é que num momento de reconsideração, ela percebeu a magnitude do seu erro e partiu para um jornada em busca da expiação, que dá título ao filme. É de um equívoco que nasce o romance entre as personagens de James McAvoy e Keira Knightley, e é um outro equívoco, propositado ou não, que o acaba por condenar.

A sensação que me deu ao ver este filme é que, tal como ao longo de mais de duas horas ele atravessa várias décadas -desde os anos 30 à contemporaneidade-, eu atravessei vários estados de espírito. Numa primeira parte, o entusiasmo de quem sabe estar em frente a um filme meticulosamente trabalhado para atingir a perfeição. Numa segunda parte, a entrega à excelência do trabalho artístico, com o plano-sequência da retirada das tropas britânicas na praia de Dunquerque a ser o apogeu. Na terceira parte, um trambolhão de alto, ao perceber que o filme não está à altura das expectativas que criou. A história segue uma narrativa constante, mas quando atinge o ponto em que o conflito é inevitável, desilude. Mas se a primeira decepção é propositada, apenas para introduzir o twist final, este também não se fica atrás e volta a decepcionar. Aqui não se pode atribuir culpa ao trabalho de Joe Wright mas sim à debilidade que o argumento, e mais concretamente a obra de Ian McEwan tem em manter o nível. As interpretações são boas (a jovem Saoirse Ronan até está nomeada para o Oscar®), a realização consegue prender, e tem magníficos momentos, a cinematografia e fotografia são assombrosas assim como a banda sonora, o que falha mesmo é a concretização da história.

Na memória ficam mesmo estes quase 5 minutos sem cortes, a ultrapassar os 3 minutos da famosa cena de Tudo Bons Rapazes do mestre Martin Scorsese.


Nota Máxima: Tudo o que tem a ver com a produção do filme em si.

Nota Mínima: O desfecho decepcionante.



Classificação: 4/5

4 Comments:

Carlos Pereira said...

Não achei o desfecho nada decepcionante. É uma obra grandiosa, muito perto da excelência. E continuo a considerar o Joe Wright como uma das maiores revelações dos últimos anos.

Johnny Boy said...

Tendo em conta o que o resto do filme é, fiquei desiludido. Mas quanto ao trabalho do Joe Wright concordo, até fiquei surpreendido por não o ver entre os nomeados para o dia 24...mas também dos outros nomeados ainda só vi o filme do Julian Schnabel...

Cataclismo Cerebral said...

Gostei de Atonement. E o final foi um grande factor para que o filme me conquistasse definitivamente!

Abraço

Johnny Boy said...

Pois, a mim foi o que mais me desiludiu. Não o final em si, mas todo o último terço de filme...achei que a qualidade caiu muito nessa fase. Não deixa de ser um belo filme.

Cumprimentos