domingo, 6 de abril de 2008

Blindness - Teaser Trailer

August Rush- O Som Do Coração

Largado num orfanato à nascença, Evan Taylor (Freddie Highmore) desde cedo revela um talento especial para a música. Movido apenas pelo instinto decide abandonar o orfanato e partir para Nova Iorque para procurar os seus pais, onde é acolhido por um vagabundo (Robin Williams) que tenta aproveitar-se do talento do jovem prodígio para seu proveito próprio. Enquanto isso, os seus pais (Keri Russel e Jonathan Rhys Meyers), separados pelo destino, iniciam também uma jornada na qual a música se revela fundamental.

Em linhas muito gerais, August Rush é apenas mais um entre muitos outros filmes do género. Típico filme de família, com contornos de fábula, o argumento não consegue evitar afundar-se em clichés e momentos em que o melodrama parece ultrapassar o limite do razoável, acabando por destruir uma premissa que bem desenvolvida até poderia ser interessante.

Kristen Sheridan, que até já esteve nomeada para o Oscar® de melhor argumento por Na América, acaba por ser vítima dos seus argumentistas neste filme, uma vez que enquanto realizadora cumpre um trabalho bom, ainda que também não acrescente nada de novo. Os únicos pontos de valor neste filme vão para as interpretações e a música. A banda sonora está muito bem desenvolvida, como era de prever num filme em que grande parte da história gira em torno da música, o que por um lado abrilhanta o filme, mas por outro destrói a credibilidade da história, uma vez que seria bastante difícil para uma criança produzir música de tão elevada complexidade. Já do elenco, bem composto, destaca-se um notável desempenho de Keri Russell como uma mãe desesperada, e Freddie Highmore, que continua a prometer bastante. Bem acompanhados por Jonathan Rhys Meyers e Terrence Howard, quem acaba por desiludir mesmo é Robin Williams, de quem se espera sempre muito, mas que se mostra neste filme incapaz de dar o contributo do costume, também por culpa da personagem muito limitada que interpreta.

Esse é mesmo um dos maiores defeitos de toda a narrativa, o pouco espaço que dá ás suas personagens para se desdobrarem em mais do que simples estereótipos, impedindo que a obra tenha mais valor de que um conto pouco plausível com o típico final feliz. As relações entre as personagens resumem-se apenas a alguns momentos no início do filme, servindo o tempo restante para alguns desenvolvimentos pouco significantes para o desenrolar da história, que poderiam muito bem terem sido omitidos de forma a maturar a obra.

Um bom filme para passar o tempo, mas pouco mais que isso.

Classifição: 2/5

sexta-feira, 21 de março de 2008

Paris Je T'Aime

Em 18 curtas-metragens, de aproximadamente 8 minutos cada, alguns dos mais prestigiados realizadores contemporâneos, tinham como missão, prestar homenagem à cidade de Paris e ao seu célebre estatuto de cidade de luz, modernidade e romantismo. Ora, com tantos realizadores de estilos completamente diferentes, era fácil prever logo à partida que Paris, Je T’Aime seria uma obra que dificilmente agradaria a gregos e troianos durante os seus 120 minutos de duração, algo que acaba por se comprovar aquando do visionamento. Cada um à sua maneira, os 18 segmentos compõem uma declaração colectiva de amor à capital francesa, mas acabam por revelar alguma dificuldade em manter um nível constante, acabando no cômputo geral, alguns por disfarçar as falhas de outros.

O rol inicia-se com Montmartre, de Bruno Podalydès, uma história de um galês que encontra o amor de forma acidental, depois de uma odisseia para conseguir estacionamento numa rua movimentada da cidade, e Quais de Seine, de Gurinder Chadha, na qual um rapaz se apaixona por uma rapariga muçulmana que é alvo do segregacionismo dos seus amigos. São provavelmente as duas curtas mais simples de entre as 18, marcadas por alguns clichés, mas ainda assim competentes em mostrar Paris como uma cidade apopléctica e multiracial. Uma maneira calma de introduzir os segmentos de realizadores mais inventivos.

O senhor que se segue é Gus Van Sant. Em Le Marais, o realizador conta o caso de um rapaz francês que decide revelar a sua atracção espontânea por outro rapaz, que apenas fala inglês e por isso não percebe o que o seu confidente lhe diz, mas pressente que algo de especial se está a passar. A história é agradável mas ainda demasiado compassada, pelo que o salto para a contribuição dos irmãos Coen acaba por representar um abanão bem-vindo.

Bem ao estilo dos irmãos maravilha, Tuileries é uma enxurrada de originalidade e humor, na qual Steve Buscemi é martirizado pelo mau génio dos Parisienses, representando as ideias ridículas que alguns americanos têm do povo europeu.

A partir daqui o filme começa a funcionar melhor, pelo menos até chegarmos à curta de Christopher Doyle, Porte de Choisy, que tem no seu retrato de chinatown parisiense de longe o mais fraco trabalho de todo o filme, acabando por destruir todo o impacto que Loin du 16ème, de Walter Salles e Daniela Thomas, tinha causado a seguir aos Cohen, com a história de uma mãe de uma classe social baixa, que tem de deixar o seu próprio filho para cuidar os de outros.

Os altos e baixos vão se sucedendo filme adentro, com os pontos mais baixos a serem Quartier de Enfants Rouges, Pigalle e Quartier de la Madeleine. Se as duas primeiras curtas, de Olivier Assayas e Richard LeGravenese respectivamente, pecam pela falta de envolvimento que conseguem gerar, a terceira, de Vincenzo Natali, num estilo parecido ao de Sin City (curiosamente também com Elijah Wood no elenco), está completamente desenquadrada das restantes, apenas ajudando a esborratar a homogeneidade que é pedida a um filme deste género.

Das restantes 9, destacam-se as histórias do japonês Nobuhiro Suwa, Place des Victoires; o trecho Parc Monceau, filmado em tempo real, de Alfonso Cuarón; e Faubourg Saint Denis, de Tom Tykwer, que conta com a participação de Natalie Portman.

A derradeira curta-metragem foi entregue a Alexander Payne, que fechou com chave de ouro a obra, com a história de uma turista americana que deambula por Paris, narrando a sua infelicidade por não ter com quem partilhar aquele momento. 14th Arrondissement é quase um resumo da carreira do realizador e da sua capacidade única em retratar a solidão.

Apesar dos contrastes entre as obras, e da notória incapacidade em manter uma ligação entre elas, Paris Je T’Aime acabou por conseguir deixar-me com vontade de viajar para a capital Francesa para procurar a minha própria história de 8 minutos.


Montmartre (Bruno Podalydes) - 3/5
Quais de Seine (Gurinder Chadha) - 3/5
Le Marais (Gus Van Sant) - 3/5
Tuileries (Joel e Ethan Coen) - 5/5
Loin du 16ème (Walter Salles e Daniela Thomas) - 4/5
Porte de Choisy (Christopher Doyle) - 1/5
Bastille (Isabel Coixet) - 4/5
Place des Victoires (Nobuhiro Suwa) - 4/5
Tour Eiffel (Sylvain Chomet) - 4/5
Parc Monceau (Alfonso Cuarón) - 5/5
Quartier des Enfants Rouges (Olivier Assayas) - 3/5
Place des Fêtes (Oliver Schmitz) - 4/5
Pigalle (Richard LeGravenese) - 2/5
Quartier de la Madeleine (Vincenzo Natali) - 2/5
Père Lachaise (Wes Craven) - 4/5
Faubourg Saint Denis (Tom Tykwer) - 4/5
Quartier Latin (Frédéric Auburtin e Gérard Depardieu) - 4/5
14th Arrondissement (Alexander Payne) - 5/5


Classificação: 4/5

terça-feira, 18 de março de 2008

Faça-se silêncio...

Fiquei a saber há poucos minutos, através da rubrica do Bernardo Sena na Deuxieme, que morreu Anthony Minghella. Depois de Heath Ledger, Brad Renfro e Roy Scheider, parece que 2008 está decidido a levar gente de talento...

sábado, 8 de março de 2008

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

Galardoado com a Palma de Ouro em Cannes no ano passado, 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias reflecte o sistema sufocante que se viveu na Roménia durante o regime comunista de Nicolae Ceausescu, centrando-se na experiência de duas amigas de universidade (Anamaria Marinca e Laura Vasiliu) e a sua opção de praticarem um aborto clandestino.

Sendo esta a minha primeira incursão pelo cinema Romeno fiquei francamente surpreendido com a dureza com que 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias trata um tema que é sempre polémico. Se ainda hoje o aborto clandestino é um problema social sisudo, então o facto de esta história se passar numa época em que o regime comunista e o conservadorismo exagerado das suas leis controlavam a Roménia, dá ainda mais ênfase às dificuldades que duas amigas tinham de ultrapassar para conseguirem alguma dignidade. A forma muito crua -sem tentar de forma alguma aligeirar a realidade- com que o filme se desenvolve, torna-o difícil e choca, mas tratar um tema desta magnitude de outra forma seria menosprezar uma realidade bastante preocupante. Não há sequer interesse em esconder as fraquezas das personagens de modo a despertar compaixão no espectador. Do início ao fim a vulnerabilidade e hediondez das pessoas são expostas.

Cristian Mungiu conduziu o filme de forma pouco ortodoxa, quase voyeur, e demonstra que muitas vezes o silêncio também pode falar. Um olhar frio sobre o modo como um sistema bárbaro pode transformar pessoas em monstros.


Nota Máxima: O realismo.

Nota Mínima: Não é um filme fácil de se ver.


Classificação: 4/5

Como é possivel...

...que só agora tenha descoberto que o Fernando Meirelles tem este blog, em que vai anunciando os desenvolvimentos mais recentes de Blindness?


O que eu tenho perdido…

sábado, 1 de março de 2008

Once

Em Dublin, um cantor de rua muito talentoso (Glen Hansard) conhece uma emigrante checa (Markéta Irglová) com a qual compõe algumas músicas na esperança de conseguir um acordo discográfico. Com o passar dos dias a relação entre os dois torna-se numa cumplicidade total, e revelam através da música a sua paixão e a procura do equilíbrio roubado por alguns amores falhados no passado.

Once é, sem grandes reservas, um dos melhores musicais dos últimos anos, senão o melhor. Sem caras ilustres, um realizador de topo ou mesmo um orçamento sequer comparável aos de Hairspray e Sweeney Todd, este filme consegue cativar como nenhum destes dois. Sem nunca ser um musical tradicional em que os diálogos surgem sob a forma de canções, é através destas que se diz muito do que as os dois jovens apaixonados não conseguem dizer um ao outro.

A uma história honesta e sem ponta de pretensiosismo, junta-se uma realização simples e bastante afável, ainda que notoriamente com poucos meios. Aliás, a falta de recursos e o amadorismo dos actores é muito provavelmente o atractivo chave do filme, ajudando a encarcerar o espectador no desdobrar da narrativa. Caso fossem “actores de verdade” a encarnar as personagens centrais de Once (Cillian Murphy foi ponderado para preencher o lugar de Glen Hansard), perdia-se muito provavelmente o impacto da obra e a acepção que a cinematografia em jeito de documentário lhe fornece. A dupla de protagonistas nunca negou nada saber de representação, talvez por isso tenha conseguido dar ás personagens uma simplicidade e ingenuidade com a qual qualquer pessoa se pode identificar e naturalmente interessar.

A abordagem de John Carney – realizador do filme e baixista da banda The Frames, liderada pelo protagonista Glen Hansard- foi, em todos os sentidos, um triunfo. Escreveu o argumento sem cair na tentação de o tornar complexo ou demasiado ambicioso, como em tudo o resto no filme, prescindiu dos clichés do cinema mainstream para criar uma obra de carácter mais pessoal. Nota-se no seu modo de filmar uma vontade em dar espaço aos protagonistas, em não se inserir demasiado na acção, quase como que estivesse apenas a observar ao longe algo que já estava a acontecer, mas mesmo assim não deixa de ser intimista. A inserção das músicas no filme surge quase como pequenos videoclips que explicam o porquê de aquela relação parecer querer ficar-se apenas pela intenção de ultrapassar a amizade. Para além de um musical o filme é também um romance pouco convencional.

A pièce de résistance de tudo isto é sem dúvida a banda sonora muito ovacionada nos Oscars®, com Falling Slowly a ser apenas uma das grandes músicas com que o filme nos premeia durante a sua curta duração.

Uma prova de que com muito pouco se pode fazer muito.


Nota Máxima: A música e a simplicidade de tudo.

Nota Mínima: Ter sido esquecido no meio de “gigantes”.


Classificação: 5/5

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Outro Momento...

Falling Slowly ganhou com toda a justiça o Oscar® de Melhor Canção Original e Marketa Irglova quase foi impedida de fazer aquele que foi para mim o discurso da noite. Apesar das 3 nomeações de Enchanted, o par de Once teve a actuação da noite.

Fica aqui o conselho, quem gostou desta música que compre a banda-sonora do filme que vale bem a pena.

O Momento...

Marion Cotillard era a minha favorita mas depois de ver Julie Christie a ganhar prémio atrás de prémio já estava conformado em ver a veterana actriz de Away From Her subir o palco nos Oscars®. Ter ganho Cotillard foi o momento em que mais vibrei na noite. Quanto ao resto da cerimónia, para além da surpresa de Tilda Swinton correu tudo conforme era previsto. Fiquei desiludido por ver Roger Deakins perder mais dois prémios, e apesar de Jon Stewart ter estado mais uma vez bem, não perco a esperança de um dia ver Conan O’Brien apresentar os Oscars®.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

He's Fuckin' Ben Affleck!

Aqui está a resposta de Jimmy Kimmel a este video da sua namorada Sarah Silverman. Este homem não se deixa ficar para trás...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Os Oscars® de Lumière

Eis os vencedores dos principais Oscars® de amanhã se fosse o Viva Lumière a escolher:


Melhor Filme: Haverá Sangue

Com Michael Clayton e Juno a destoarem (trocaria estes dois filmes por O Lado Selvagem e Gangster Americano) e na minha opinião arredados da corrida, sobram três. Expiação é o "filme tipo" que a Academia gosta de premiar, mas apesar de toda a sua beleza parece-me injusto se vencer. Este País Não É Para Velhos tem todas as hipóteses de sair vencedor na noite de amanhã, mas o meu favorito é Haverá Sangue. Talvez seja também essa a escolha da Academia que -se não premiar Expiação- hesitará em premiar o filme dos Coen que muita gente apelidou de confuso e sem sentido. Para qualquer um destes dois últimos o prémio será bem entregue.


Melhor Realizador: Paul Thomas Anderson Por Haverá Sangue

Gostava de ver os Coen a receberem um prémio mais que merecido, mas acho que o trabalho de Paul Thomas Anderson é superior, e enquanto que o estilo dos Coen pode ser considerado para alguns como "mais do mesmo", PTA deu neste filme uma volta de 180º a tudo o que havia feito até agora, num registo completamente diferente. Dos outros três penso que só Julien Schnabel pode surpreender.


Melhor Actor: Daniel-Day Lewis por Haverá Sangue

Acho que nesta categoria não há grande contestação. George Clooney parece um vencedor improvável a menos que algo de muito extraordinário aconteça, assim como Tommy Lee Jones. Entre as performances de Johnny Depp e Viggo Mortensen talvez Depp tenha mais hipóteses de surpreender para consagrar o facto de estar cronicamente nomeado nos últimos anos, embora Sweeney Todd não seja nem de perto nem de longe o seu melhor trabalho e Mortensen tenha o seu melhor trabalho em Promessas Perigosas. Ainda assim parece-me improvável que alguém que não Daniel Day-Lewis leve a estatueta para casa.


Melhor Actriz: Marion Cotillard por La Vie En Rose

Adoro Cate Blanchett, mas o filme é fraco e ela tem mais possibilidades de vencer na categoria secundária do que nesta. Ellen Page é excelente como Juno e pode ser uma boa surpresa. Ainda não vi Laura Linney em The Savages mas pelo que ouvi dizer será difícil vencer. Entre Julie Christie e Marion Cotillard não hesitaria um segundo em galardoar a segunda. É verdade que a primeira está muitíssimo bem em Longe Dela, mas a Edith Piaf de La Vie En Rose é sem dúvida a interpretação que mais fica na retina. Há quem diga que Marion tem tiques na representação, se os tem não os vi, e tiques eram uma coisa que também não faltavam a Piaf...


Melhor Actor Secundário: Javier Bardem por Este País Não É Para Velhos

Esta é talvez a categoria que mais indeciso me deixa. São cinco interpretações brilhantes e que deixam ainda de fora o também muito bom Paul Dano. Ver Hal Holbrook vencer o Oscar® seria uma repetição do ano passado em que Alan Arkin surpreendeu. Philip Seymour Hoffman já recebeu a sua consagração há dois anos e por isso este ano talvez deva dar lugar a outro. Tom Wilkinson receberia o reconhecimento justo de uma bela carreira. Casey Affleck a recompensa por um ano em cheio. Mas parece-me que Javier Bardem é quem mais merece, depois de já ter perdido uma vez e não ter sido nomeado pelo seu fantástico Rámon Sampredo. Vai ser bom ver qualquer um dos cinco em cima do palco.


Melhor Actriz Secundária: Cate Blanchett por Não Estou Aí

Para mim Cate Blanchett vence descaradamente, mesmo sem ter visto o filme. Pode parecer ridículo escolher uma interpretação que ainda não vi, mas de entre as outras nomeadas não consigo perceber a razão da nomeação de Ruby Dee num papel tão mínimo; Saoirse Ronan está muito bem mas não me parece em condições para vencer devido à sua idade e à diferença de calibre em relação às outras nomeadas; Amy Ryan não maravilha; Tilda Swinton seria quem ganhava se tivesse que escolher de entre os filmes que já vi. Ainda assim, conhecendo as capacidades de Cate Blanchett e o potencial do papel de Não Estou Aí, acho que ela é capaz de superar as outras quatro “rivais” sem grande dificuldade.


Melhor Argumento Original: Ratatouille

Aqui ponho de parte The Savages e Lars And The Real Girl, que ainda não estrearam. Dos outros três, Michael Clayton- Uma Questão de Consciência parece-me arredado. Entre Juno e Ratatouille escolheria o filme de Brad Bird pois parece-me que apesar de muito bem escrito, Juno tem algumas falhas que já apontei na minha crítica ao filme.


Melhor Argumento Adaptado: Este País Não É Para Velhos

Os cinco nomeados desta categoria são todos eles muito bem elaborados, mas Este País Não É Para Velhos foi escrito pelos Coen e isso chega para perceber que está acima da média.


Melhor Filme de Animação: Ratatouille

Acho que não há muito a dizer. Não me lembro de gostar tanto de um filme de animação desde os dois Toy Story e Nemo. Este é com 90% de certeza…só Persepolis pode assustar Brad Bird.

Juno

Juno (Ellen Page) tem apenas 16 anos quando descobre que está grávida do seu colega de escola Paulie Bleeker (Michael Cera). Depois de ponderar decide deixar o aborto de lado e encarar a gravidez de frente, optando por dar o filho para adopção. Com o apoio da sua melhor amiga Leah (Olivia Thirlby) e do pai, Mac (J.K. Simmons), encontram um casal estéril, Mark (Jason Bateman) e Vanessa (Jennifer Garner) que parecem ser os candidatos perfeitos.

O filme sensação de 2007 tem em Elle Page e no seu argumento os principais sustentáculos para o sucesso. Para um argumento muito bem escrito e sem qualquer ponta de falsos moralismos era preciso uma actriz jovem que pudesse interpretar uma personagem com uma personalidade tão peculiar como a de Juno, e Ellen Page revelou-se à altura do desafio. A sua interpretação é descontraída mas ainda assim tocante, porque apesar de todas as suas piadas e da sua “capa dura”, Juno está vulnerável a uma situação emocionalmente difícil. Ellen vai aos Oscars® com todas as possibilidades de sair vencedora, ainda que Julie Christie e Marion Cotillard estejam em melhor posição. A personagem de Juno sai contudo prejudicada pela falta de realismo e pelo excessivo levianismo com que encara toda a situação. Esse é o defeito principal do filme e do argumento, que é capaz de inserir na história um humor muito corrosivo mas que observa um problema da actualidade de uma forma demasiado banalizada. Afinal quantos seriam os pais que encarariam uma gravidez de uma filha adolescente com a mesma serenidade que os pais de Juno? De resto é tudo muito bom, diálogos deliciosamente cómicos, um Michael Cera que consegue sempre ser um “pacóvio” muito convincente e até Jennifer Garner que não é propriamente boa actriz consegue estar bem q.b..

Jason Reitman que já tinha mostrado o que valia em Thank You For Smoking consegue conduzir o filme de forma muito harmoniosa com a cultura pop em que o filme inevitavelmente se insere, fazendo um muito bom uso da música durante um filme, numa simbiose quase perfeita.

As comparações com Uma Família Á Beira De Um Ataque De Nervos são apenas inevitáveis porque são dois filmes indie a serem nomeados para a principal categoria dos Oscars® em anos consecutivos. De resto, e embora as reacções mais recentes digam o contrário, Uma Família Á Beira De Um Ataque De Nervos parece-me em muita coisa um filme superior a Juno.

Quem deve ter saído satisfeito com a enorme exposição de que o filme tem sido alvo são as marcas Sunny Delight e Tic Tac


Nota Máxima: Ellen Page promete cada vez mais.

Nota Mínima: A banalização de um tema demasiado sério.


Classificação:4/5

Este País Não É Para Velhos


No meio de um cenário sangrento de um tiroteio no deserto, Llewelyn Moss (Josh Brolin) encontra uma mala repleta de dinheiro e depressa se decide a guardar o dinheiro para si. No entanto a mala trás consigo demasiados problemas quando Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino profissional psicótico com uma determinação acima da média, é enviado para recuperar a mala e causa o caos na pacata localidade. Também o xerife local Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) se vai empenhar em resolver os crimes violentos, mas com uma visão muito pessoal sobre tudo ao seu redor.

Se pudesse falar com Ethan e Joel Coen teria de pedir desculpa por não ter ido assistir a este filme num cinema, mas num país em que se encara o combate à pirataria como um assunto de grande urgência (nada contra) mais cedo estreiam dezenas de blockbusters enfadonhos do que um filme nomeado a todas as principais categorias do Oscars®…e para mim a espera tornou-se insuportável. De qualquer forma no dia 28 de Fevereiro estarei no cinema a rever este grande filme com a qualidade que deveria ter podido ver pela primeira vez.

Problemas à parte, Este País Não É Para Velhos é irmãos Coen no seu melhor. Se há coisa que estes dois não sabem fazer é desiludir. Todas as marcas características que estavam patentes na cinematografia de filmes como História de Gangsters, O Grande Salto, Irmão, Onde Estás?, Fargo e O Grande Lebowski estão também presentes neste filme. Há o humor perspicaz, há violência bastante gráfica, há personagens estereotipadas de regiões isoladas, há um argumento muito bem escrito com frases memoráveis…há mais um grande filme.

A acompanhar temos um Javier Bardem em grande forma, que provavelmente irá ser recompensado pela injustiça que foi não ter sido nomeado pela academia por Mar Adentro em 2005. A reprodução de uma mente psicopata por Bardem é de tal maneira realista que mesmo com um cabelo notoriamente (e propositadamente) ridículo a sua repugnância consegue assustar. Depois há ainda Josh Brolin (que ultimamente parece estar em todos os filmes) e Tommy Lee Jones, os dois com interpretações também elas dignas de todos os louvores que lhes vêm sendo pregados. Com papéis mais pequenos temos Kelly Macdonald e Woody Harrelson, secundários de luxo.

O que parece ter causado muita confusão a muita gente é a desarmonia do filme com a personagem de Tommy Lee Jones. A um primeiro olhar o xerife Ed Tom Bell pode parecer uma personagem descartável para o interesse do filme, mas com o discurso final, percebemos que afinal é o seu olhar sobre toda a violência e toda a impetuosidade da narrativa que devemos passar para primeiro plano. O desenvolvimento do filme serve para decifrar o título do mesmo, o porquê de aquele não ser “um país para velhos”. È este o pormenor que dá ao filme uma faceta poética, um olhar sobre as barbaridades de que as pessoas são capazes para atingir fins pouco importantes. E talvez os dois milhões na mala de Llewelyn não fossem merecedores de toda a violência a que se viu sujeito para os tentar guardar...


Nota Máxima: Interpretações e argumento de alto nível.

Nota Mínima: A falta de uma banda sonora ajuda a aumentar a tensão em alguns momentos mas também torna outros um tanto aborrecidos.

Classificação: 5/5

Michael Clayton- Uma Questão de Consciência

Michael Clayton (George Clooney) é o que se pode chamar de “esfregona humana” da empresa de advogados Kenner, Bach & Ledeen. O trabalho dele é arranjar maneira de encobrir as excentricidades dos advogados de alto nível e manter o bom-nome da empresa. Contudo, quando um dos advogados mais brilhantes da empresa, Arthur Edens (Tom Wilkinson), tem um esgotamento e tenta sabotar um caso relativo à empresa química U/North, Michael Clayton vai enfrentar a dura realidade de perceber que talvez se encontre do lado errado da justiça.

O filme foi nomeado para sete Oscars® mas desde logo a nomeação de George Clooney parece injusta. Não que a interpretação não mereça, bem pelo contrário, é um George Clooney surpreendentemente bem, mas num ano tão rico em grandes interpretações Emile Hirsch merecia mais a honra de estar entre os cinco melhores do ano. Já as nomeações de Tom Wilkinson e Tilda Swinton são mais que merecidas, e principalmente Wilkinson demonstra o excelente actor que é. Pena que tenha concorrência tão forte…

Na realização palmas para Tony Gilroy. O criador da trilogia Bourne estreia-se em grande atrás das câmaras e conduz o filme de maneira muito inteligente. Consegue deixar-nos “às escuras” durante quase um terço do filme, não caindo na tentação de acelerar a acção e entrar no “corre-corre” típico dos blockbusters, dando assim uma intensidade enigmática ao filme, o que talvez seja o grande responsável para estar nomeado à categoria principal.

È um filme muito bom, mas que talvez não mereça o volume de destaque que lhe foi dado.

Nota Máxima: A construção das personagens no argumento muito bem escrito por Tony Gilroy.

Nota Mínima: Fez-me lembrar Erin Brockovich e ficar com medo que George Clooney faça a Daniel Day-Lewis aquilo que Julia Roberts fez a Ellen Burstyn


Classificação: 4/5

Haverá Sangue

Em 1911, o magnata Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) dirige-se para a árida zona de Little Boston seguindo uma dica que indicava o lugar como um mar de petróleo. O que encontra é uma cidade desolada e sem recursos, em que o petróleo brota à superfície do solo, mas os valores religiosos fanáticos do pregador Eli Sunday (Paulo Dano) e de toda a comunidade, apresentam-se como um obstáculo à exploração do território. Com o aumento da fortuna aumenta também a ganância de Plainview, que cedo vai afectar a vida do seu filho H.W. (Dillon Freasier) e de todos os que o rodeiam.
Baseado no livro Oil, de Upton Sinclair.

Paul Thomas Anderson consegue com Haverá Sangue tocar os mais variados temas e mesmo assim manter a congruência necessária para o filme não se perder. Retrata o desenvolvimento da história norte-americana com a “demonização" do capitalismo por parte da igreja (com as personagens de Plainview e Eli a surgirem como a personificação dos dois extremos com egos enormes), confere uma dimensão pessoal ao filme com a adopção em condições trágicas de H.W. e o decair da relação entre pai e filho, e, principalmente, apresenta uma bela representação do efeito que a ambição e a ganância podem ter numa pessoa.

Haverá Sangue entra imediatamente para a história pela brilhante interpretação (mais uma) de Daniel Day-Lewis, que lhe garante automaticamente um lugar de honra na galeria dos melhores actores. E se este vai quase certamente levar o Oscar® para casa já Paul Dano merecia também ele uma nomeação pelo o seu papel secundário. Conseguir aguentar-se taco a taco com aquele que é talvez o melhor actor da actualidade não é tarefa fácil e Dano fê-lo melhor do que Leonardo DiCaprio havia feito há uns anos atrás em Gangs de Nova Iorque.

Paul Thomas Anderson que já tinha mostrado que era um excelente realizador em filmes como Boogie Nights (onde parecia ter muitos dos “tiques” de Martin Scorsese), Magnólia e Embriagado No Amor, tem aqui o seu melhor trabalho de sempre, com o início sem diálogos e o final impetuoso do filme a serem do melhor que se viu nos últimos anos.

Menção honrosa para Jonny Greenwood, guitarrista dos Radiohead, que criou uma banda sonora à altura do pequeno épico que este filme é.

Sem poder ver Este País Não É Para Velhos que só estreia depois dos Oscars® este passa a ser o meu favorito de entre os 4 nomeados que já estrearam.
Uma obra-prima obrigatória.


Nota Máxima:
Daniel Day-Lewis

Nota Mínima: Que me lembre só o facto de a personagem de Paul Dano não ter envelhecido um só dia durante 15 anos.


Classificação: 5/5

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O Lado Selvagem

Adaptado do livro com o mesmo nome do jornalista Jon Krakauer, O Lado Selvagem conta a história de Christopher McCandless (Emile Hirsch), que depois de terminar o liceu decide abandonar uma vida de riqueza e conflitos familiares e realizar o seu sonho de viajar para o Alasca sob o nome de Alexander Supertramp apenas com o que tem no corpo.

O que este filme não é de certeza é “Supertramp”. O Lado Selvagem tem tudo o que se pode pedir a um filme: as interpretações são todas elas magníficas sem excepção; o trabalho de realização de Sean Penn é esteticamente delicioso; a banda sonora com letras oportunas e de muito valor (a cargo de Eddie Vedder, vocalista dos Pearl Jam) é de muito boa qualidade; a história é cativante; e até tem um cheirinho literatura. Basicamente é sentar e apreciar o todo. É um daqueles filmes de que se sai da sala de cinema com vontade de entrar logo de seguida para ver outra vez. Não há muito mais a dizer…excelente!

Nota Máxima: Tudo.

Nota Mínima: Nada.



Classificação: 5/5

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A nova revista de cinema

Foi-se a rumaria mensal ao quiosque para comprar a Premiere, chegou a rumaria ao download da Take. Para quem não sabe, a Take é a nova revista online para amantes de cinema, criada por um conjunto dos principais bloggers de cinema do nosso país, e está disponível em http://take.com.pt/, todos os meses. Não creio ser preciso dizer mais nada para seguirem o link…

Aos responsáveis pela revista, obrigado!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Vista Pela Última Vez...

Baseado no livro de Dennis Lehane, Vista Pela Última Vez… relata a história de dois detectives privados (Casey Affleck e Michelle Monaghan) que são contratados para investigar o desaparecimento de uma criança em Boston, acabando o caso por tomar proporções pessoais e os colocar perante um dilema moral.

Desde logo é preciso dizer que as inúmeras reportagens que têm surgido nos últimos tempos em que se estabelecem paralelismos entre o filme e o «caso Maddie» foram, sem dúvida alguma, um exagero. As semelhanças entres os dois casos cingem-se simplesmente à semelhança física entre Maddie e a pequena actriz Madeline O'Brien, que encarna a personagem de Amanda McCready, criança sequestrada no filme. De resto, todo o burburinho em que este filme esteve envolto apenas serviu para retardar a sua estreia em Portugal e no Reino Unido, privando o público de um dos filmes mais elogiados do ano.

Polémicas à parte estamos perante um bom filme, com algumas confirmações e outras tantas revelações. Começando pelas confirmações: Casey Affleck, depois do excelente trabalho em O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford afirma-se ainda mais como um actor a manter debaixo de olho nos próximos anos, não superando o papel de Robert Ford – missão muito difícil tendo em conta a diferença na complexidade psicológica das duas personagens – mas brindando-nos com mais uma boa performance; Morgan Freeman e principalmente Ed Harris (em grande!) mostram que mesmo com o passar do tempo mantêm o talento imaculado; e Ben Affleck prova que o Oscar® que já ganhou pelo argumento de O Bom Rebelde não foi só obra de Matt Damon, assinando também argumento deste filme a meias com o estreante nestas andanças Aaron Stockard. No campo das revelações temos Amy Ryan, que, na minha opinião, merece a nomeação mas também não deixa ninguém maravilhado. Depois, uma Michelle Monaghan muitíssimo bem (e o que eu fiquei a gostar desta menina desde Kiss Kiss Bang Bang…) e, claro está, uma estreia segura de Ben Affleck atrás das câmaras, a pedir que por lá se mantenha…

O filme peca talvez pela sua pouca coerência, com alguns momentos a parecerem soltos no meio da narrativa, e alguma violência supérflua, mas que acabam por ser perdoáveis quando culmina num dilema que deixa qualquer pessoa a ponderar se o que nos parece o mais correcto é realmente o que se deve fazer. É um bom filme, mas longe da qualidade da adaptação anterior de uma obra de Dennis Lehane, Mystic River.


Nota Máxima: Ed Harris.

Nota Mínima: O retrato de Boston excessivamente violento.



Classificação: 3/5

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

What Just Happened?

Enquanto não há trailer nem data de estreia agendada para o novo filme de Barry Levinson temos de nos contentar com as reacções de quem já teve a sorte de o ver em Sundance. Ao que parece as criticas não foram muito efusivas (andam todas à volta disto). Ainda assim What Just Happened? consegue ser um dos filmes a estrear este ano que me desperta mais interesse. Continuo a acreditar num regresso de De Niro aos bons velhos tempos, e depois ainda há Sean Penn, Catherine Keener, John Tuturro e Bruce Willis a acompanhar...

Até ver, os primeiros minutos de este clip contém os poucos segundos de filme já revelados:

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Expiação

Adaptação do aclamado romance de Ian McEwan, Expiação relata a história de um amor condenado ao fracasso, vítima de um momento mal decifrado pela imaginação fértil de uma jovem, que durante toda a sua vida vai procurar redimir o seu erro. Esta pode ser uma interpretação daquele que muitos proclamam ser o tearjerker do ano. Por outro lado podia estar aqui a dizer que é uma história sobre o efeito que uma acção impulsionada pelo ciúme tem sobre a vida de duas pessoas, e estar igualmente correcto. Nunca poderemos afirmar ao certo se o que levou Briony Tallis (interpretada por três actrizes diferentes) a cometer aquele acto terrível foi a sua ingenuidade ou a falta dela. Importante é que num momento de reconsideração, ela percebeu a magnitude do seu erro e partiu para um jornada em busca da expiação, que dá título ao filme. É de um equívoco que nasce o romance entre as personagens de James McAvoy e Keira Knightley, e é um outro equívoco, propositado ou não, que o acaba por condenar.

A sensação que me deu ao ver este filme é que, tal como ao longo de mais de duas horas ele atravessa várias décadas -desde os anos 30 à contemporaneidade-, eu atravessei vários estados de espírito. Numa primeira parte, o entusiasmo de quem sabe estar em frente a um filme meticulosamente trabalhado para atingir a perfeição. Numa segunda parte, a entrega à excelência do trabalho artístico, com o plano-sequência da retirada das tropas britânicas na praia de Dunquerque a ser o apogeu. Na terceira parte, um trambolhão de alto, ao perceber que o filme não está à altura das expectativas que criou. A história segue uma narrativa constante, mas quando atinge o ponto em que o conflito é inevitável, desilude. Mas se a primeira decepção é propositada, apenas para introduzir o twist final, este também não se fica atrás e volta a decepcionar. Aqui não se pode atribuir culpa ao trabalho de Joe Wright mas sim à debilidade que o argumento, e mais concretamente a obra de Ian McEwan tem em manter o nível. As interpretações são boas (a jovem Saoirse Ronan até está nomeada para o Oscar®), a realização consegue prender, e tem magníficos momentos, a cinematografia e fotografia são assombrosas assim como a banda sonora, o que falha mesmo é a concretização da história.

Na memória ficam mesmo estes quase 5 minutos sem cortes, a ultrapassar os 3 minutos da famosa cena de Tudo Bons Rapazes do mestre Martin Scorsese.


Nota Máxima: Tudo o que tem a ver com a produção do filme em si.

Nota Mínima: O desfecho decepcionante.



Classificação: 4/5

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O homem está em todas...

Josh Brolin em Gangster Americano de Ridley Scott.

Josh Brolin em Planeta Terror de Robert Rodriguez.
Josh Brolin em Este País Não É Para Velhos dos irmãos Coen.
Josh Brolin em No Vale de Elah de Paul Haggis.
Seguem-se Milk e Bush para juntar também à lista Gus Van Sant e Oliver Stone...

De volta ao faroeste...


O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford

A desmistificação da lenda de Jesse James. Este podia ser o epítome deste filme de Andrew Dominik, não fosse deixar tanto por dizer. O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford não é o típico western de acção. Pelo contrário, este é um western que descarta as maratonas de duelos e perseguições típicas do género, para incorrer sob a vulnerabilidade dos seus personagens. Para isso o filme faz do tempo o seu trunfo, deixando a história desdobrar fluidamente durante quase três horas, o que se podia muito bem tornar fatigante mas, muito graças aos desempenhos dos protagonistas e à crescente tensão da narrativa, acaba por absorver o espectador. O que ajuda também (e muito) a tornar este filme num dos melhores do ano é a beleza da fotografia -a cargo de Roger Deakins- que nos presenteia com sumptuosos momentos artísticos, dos quais se destaca o assalto ao comboio logo nos momentos iniciais da história. A realização pausada de Andrew Dominik serve neste filme de cooperação para com o desenvolvimento das personagens de Jesse James e Robert Ford, notavelmente desempenhadas por Brad Pitt e Casey Affleck respectivamente, que conseguem exteriorizar muito bem um tenebroso conjunto de emoções, fruto do clima de desconfiança que se vive desde o princípio do filme até ao culminar, com o comovente assassinato de Jesse James. Mas, acima de tudo, esta obra trás ao público uma nova visão sobre a figura mítica de Jesse James aquando da sua morte, não como o herói de que a história reza, mas como um criminoso psicologicamente esgotado e em fase de redenção consigo próprio. A ironia toma de assalto o filme, quando Jesse James, após o seu único acto de clemência durante toda a narrativa, é traído por Robert Ford, que na incessante procura pela fama, acaba por assassinar a figura que endeusara desde criança pelas costas, ficando imortalizado para a história como um simples covarde. É um filme que não funciona para quem prefere o western de estilo clássico, mas que quem se deixar ir com os conflitos pessoais das personagens sai facilmente arrebatado com a beleza, quer física quer lírica da obra.


Nota máxima: Os desempenhos de Brad Pitt e principalmente de Casey Affleck a justificar plenamente a nomeação ao Oscar®.
O trabalho mais uma vez fantástico de Roger Deakins a pedir que seja desta que ganhe o seu primeiro Oscar®.
A Banda Sonora à medida do filme.

Nota mínima: A já badalada tentativa de imitação do estilo de Terrence Malick.

Classificação: 4/5


O Comboio das 3 e 10

Depois de um princípio de carreira que passou pelos mais variados géneros, James Mangold ganhou relevo com o excelente Walk The Line. Com O Comboio das 3 e 10, o realizador dá um pequeno passo atrás, mas não desilude. Se O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford se distingue pela sua narrativa bastante pausada, já este filme toma o caminho exactamente oposto e oferece, do início ao fim, acção quase ininterrupta. Remake do original homónimo de 1957, conta a história de Dan Evans (Christian Bale), inutilizado de uma perna, e da sua jornada para transportar o ilustre criminoso -agora prisioneiro -Ben Wade (Russel Crowe) até ao comboio das 3 e 10, em Yuma, de onde seguirá caminho para a prisão. Até lá terá de arranjar maneira de se desenvencilhar dos leais súbditos de Wade, que fazem de tudo para resgatar o seu líder.

Como plano de fundo já comum a vários westerns temos a guerra civil americana e as complicações que dela adviriam, que acabam por custar à personagem de Bale as suas posses, pilhadas por delinquentes, e o respeito do seu filho. Evans enceta então na viagem, não só pela necessidade da recompensa de captura de Wade, mas também para ganhar o respeito do filho. Tal como com Jesse James aqui perdura a exaltação dos criminosos, típicas personagens enigmáticas que despertam a curiosidade a qualquer um, sendo que o filho de Evans vê em Ben Wade o que desejava que o seu pai fosse. Russel Crowe consegue emprestar durante grande parte do filme uma imagem de barbaridade sarcástica à sua personagem, que se vai quebrando com o desenvolver da história, com a crescente afeição que este vai desenvolvendo com Evans, chegando a um ponto em que a compaixão acaba por se justapor ao seu instinto homicida. Com a qualidade do costume nas interpretações de Bale e Crowe quem acaba por ressair é um inesperadamente penetrante Ben Foster, no papel de um sádico subalterno de Crowe. O histórico Peter Fonda tem também um pequeno papel no filme, assim como um sempre apático Luke Wilson. Da realização de James Mangold não há nada a apontar, muito consistente como de costume. Um bom filme mas que pouco acrescenta ao original, a não ser um toque de modernidade.

Nota Máxima: A surpresa que foi Ben Foster,

Nota Mínima: Luke Wilson. Mesmo num papel minúsculo consegue desiludir. Numa cena do filme está a torturar um homem com a mesma convicção que teria se estivesse a cumprimentar uma criança…


Classificação: 3/5