segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

De volta ao faroeste...


O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford

A desmistificação da lenda de Jesse James. Este podia ser o epítome deste filme de Andrew Dominik, não fosse deixar tanto por dizer. O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford não é o típico western de acção. Pelo contrário, este é um western que descarta as maratonas de duelos e perseguições típicas do género, para incorrer sob a vulnerabilidade dos seus personagens. Para isso o filme faz do tempo o seu trunfo, deixando a história desdobrar fluidamente durante quase três horas, o que se podia muito bem tornar fatigante mas, muito graças aos desempenhos dos protagonistas e à crescente tensão da narrativa, acaba por absorver o espectador. O que ajuda também (e muito) a tornar este filme num dos melhores do ano é a beleza da fotografia -a cargo de Roger Deakins- que nos presenteia com sumptuosos momentos artísticos, dos quais se destaca o assalto ao comboio logo nos momentos iniciais da história. A realização pausada de Andrew Dominik serve neste filme de cooperação para com o desenvolvimento das personagens de Jesse James e Robert Ford, notavelmente desempenhadas por Brad Pitt e Casey Affleck respectivamente, que conseguem exteriorizar muito bem um tenebroso conjunto de emoções, fruto do clima de desconfiança que se vive desde o princípio do filme até ao culminar, com o comovente assassinato de Jesse James. Mas, acima de tudo, esta obra trás ao público uma nova visão sobre a figura mítica de Jesse James aquando da sua morte, não como o herói de que a história reza, mas como um criminoso psicologicamente esgotado e em fase de redenção consigo próprio. A ironia toma de assalto o filme, quando Jesse James, após o seu único acto de clemência durante toda a narrativa, é traído por Robert Ford, que na incessante procura pela fama, acaba por assassinar a figura que endeusara desde criança pelas costas, ficando imortalizado para a história como um simples covarde. É um filme que não funciona para quem prefere o western de estilo clássico, mas que quem se deixar ir com os conflitos pessoais das personagens sai facilmente arrebatado com a beleza, quer física quer lírica da obra.


Nota máxima: Os desempenhos de Brad Pitt e principalmente de Casey Affleck a justificar plenamente a nomeação ao Oscar®.
O trabalho mais uma vez fantástico de Roger Deakins a pedir que seja desta que ganhe o seu primeiro Oscar®.
A Banda Sonora à medida do filme.

Nota mínima: A já badalada tentativa de imitação do estilo de Terrence Malick.

Classificação: 4/5


O Comboio das 3 e 10

Depois de um princípio de carreira que passou pelos mais variados géneros, James Mangold ganhou relevo com o excelente Walk The Line. Com O Comboio das 3 e 10, o realizador dá um pequeno passo atrás, mas não desilude. Se O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford se distingue pela sua narrativa bastante pausada, já este filme toma o caminho exactamente oposto e oferece, do início ao fim, acção quase ininterrupta. Remake do original homónimo de 1957, conta a história de Dan Evans (Christian Bale), inutilizado de uma perna, e da sua jornada para transportar o ilustre criminoso -agora prisioneiro -Ben Wade (Russel Crowe) até ao comboio das 3 e 10, em Yuma, de onde seguirá caminho para a prisão. Até lá terá de arranjar maneira de se desenvencilhar dos leais súbditos de Wade, que fazem de tudo para resgatar o seu líder.

Como plano de fundo já comum a vários westerns temos a guerra civil americana e as complicações que dela adviriam, que acabam por custar à personagem de Bale as suas posses, pilhadas por delinquentes, e o respeito do seu filho. Evans enceta então na viagem, não só pela necessidade da recompensa de captura de Wade, mas também para ganhar o respeito do filho. Tal como com Jesse James aqui perdura a exaltação dos criminosos, típicas personagens enigmáticas que despertam a curiosidade a qualquer um, sendo que o filho de Evans vê em Ben Wade o que desejava que o seu pai fosse. Russel Crowe consegue emprestar durante grande parte do filme uma imagem de barbaridade sarcástica à sua personagem, que se vai quebrando com o desenvolver da história, com a crescente afeição que este vai desenvolvendo com Evans, chegando a um ponto em que a compaixão acaba por se justapor ao seu instinto homicida. Com a qualidade do costume nas interpretações de Bale e Crowe quem acaba por ressair é um inesperadamente penetrante Ben Foster, no papel de um sádico subalterno de Crowe. O histórico Peter Fonda tem também um pequeno papel no filme, assim como um sempre apático Luke Wilson. Da realização de James Mangold não há nada a apontar, muito consistente como de costume. Um bom filme mas que pouco acrescenta ao original, a não ser um toque de modernidade.

Nota Máxima: A surpresa que foi Ben Foster,

Nota Mínima: Luke Wilson. Mesmo num papel minúsculo consegue desiludir. Numa cena do filme está a torturar um homem com a mesma convicção que teria se estivesse a cumprimentar uma criança…


Classificação: 3/5

1 Comment:

Johnny Boy said...

Obrigado Sérgio! Volta sempre! ;)